A expectativa de produção para a safra paranaense de verão 20/21 aponta para um volume de 24,4 milhões de toneladas de grãos. A área plantada deve ocupar 6,09 milhões de hectares, segundo relatório mensal do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, divulgado nesta sexta-feira (30).
O relatório mostra ainda que a produção de trigo apresenta um recuo em relação às expectativas iniciais, mas ainda assim será a maior produção no Estado nos últimos três anos. Com a concretização de um volume de 3,1 milhões de toneladas de trigo, a safra total de grãos do Paraná, no período 2019/20 está sendo finalizada, devendo atingir um volume total de 40,65 milhões de toneladas, 13% a mais que o período anterior.
Apesar de ainda irregulares, as chuvas que ocorreram no Estado nas últimas semanas contribuíram com a recuperação do plantio da safra de grãos de verão 2020/21 que estava bastante atrasado. Houve recuperação no plantio de soja, milho, feijão e também foi a acelerada a colheita do trigo, que está em processo de finalização.
Para o diretor do Deral, Salatiel Turra, a estiagem começa a recuar a tempo, o que demonstra um alento aos produtores que estão acelerando o plantio das lavouras em todo o Estado. Segundo Turra, a cotação do dólar, elevada frente ao real, repercute na decisão de plantio dos produtores. Por outro lado, os produtores estão à mercê do comportamento do clima daqui para frente, disse.
SOJA – Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, com a volta das chuvas, mesmo que irregulares, houve recuperação no plantio de soja que avançou para 61% da área prevista, correspondendo a um total de 3,4 milhões de hectares. Há um ano foram ocupados 3,54 milhões de hectares. “Ainda há atraso em relação à safra passada, mas a volta das chuvas propiciou os trabalhos nas últimas semanas”, disse Garrido.
Ele ressalta que chuvas irregulares é uma das principais características do fenômeno climático La Niña, mas a expectativa é que elas ocorram em momentos importantes do ciclo para garantir uma boa safra. As regiões mais afetadas pelo clima foram o Oeste e Sudoeste do Estado, que plantam a soja antes.
Segundo Garrido, o clima deste ano está muito semelhante ao ano passado quando houve uma estiagem no início do plantio e depois o volume de chuvas foi bom e recuperou o plantio, garantindo um bom desenvolvimento das lavouras e o resultado foi o maior nível de produtividade da soja em relação a anos anteriores. “A expectativa do produtor é repetir esse cenário este ano”, afirmou.
Com uma área de 5,55 milhões de hectares previstas para a soja em todo o Estado, a estimativa de produção aponta para um volume de 20,5 milhões de toneladas, levemente inferior à colhida no início deste ano.
Cerca de 40% da produção estimada para a safra 20/21, que corresponde a um volume de oito milhões de toneladas do grão, já foi vendida. Isso representa o dobro do ano passado, quando nessa mesma época tinham sido vendidas em torno de 3,8 milhões de toneladas.
A pré-venda acelerada está ocorrendo em função da elevação da demanda no mercado mundial, capitaneado pela China, e da cotação do dólar alto, em torno de R$ 5,80. Há um ano, o dólar estava cotado a R$ 4,00. Nesse período a soja teve uma valorização de 87%, passando de R$ 75,00 a saca há um ano para R$ 141,00 a saca no mês de outubro.
MILHO – O plantio de milho de verão, que deve ocupar uma área de 360 mil hectares, está quase concluído com 92% da área já ocupada. A estimativa é para uma produção de 3,45 milhões de toneladas para a primeira safra.
O Deral também está finalizando a avaliação da segunda safra de milho correspondente à temporada 2019/20 que deve atingiu um volume de 11,7 milhões de toneladas, o que consolida uma perda de 1,5 milhão de toneladas na revisão dos números, disse o analista do Deral, Edmar Gervásio.
Com isso, as duas safras de milho estão consolidando um volume total de 15 milhões de toneladas de milho produzidas no Paraná no ano agrícola 2019/20. Segundo Gervásio, é um bom volume, embora inferior ao potencial de produção de milho no Estado que vai de 17 a 19 milhões de toneladas nas duas safras anuais.
A expectativa dos produtores, agora, é com a elevada possibilidade de concentração do período de plantio de milho da segunda safra no início de 2021, por causa do atraso do plantio da soja. “Uma área sucede a outra”, disse o analista. “Isso significa que aumentam os riscos para o produtor. Sem escalonamento de plantio, qualquer ocorrência climática mais grave como chuvas em excesso, geadas ou seca pode atingir as lavouras de uma só vez e aí o estrago pode ser bem maior, explicou Gervásio.
Os preços do milho também estão valorizados pelos mesmos motivos da soja: elevação da demanda no mercado mundial e valorização do câmbio. O preço do milho mais do que dobrou em um ano, passando de R$ 31,41a saca em outubro de 2019 para R$ 60,55 a saca este ano, uma alta de 92,7%, quase atingindo a paridade com o mercado internacional cuja cotação é de R$ 75,00 a saca.
O preço do milho está muito bom para o produtor, disse Gervásio, mas influencia outras cadeias produtivas como as do frango e suínos. Essas cadeias, extremamente dependentes do milho, ficam mais apreensivas com a possibilidade de problemas com o clima na safrinha.
FEIJÃO – O feijão é o grão que mais avançou no plantio com as chuvas das últimas semanas. Em setembro, havia apenas 31% da área prevista plantada. Agora, são 92% da área já semeada, o que representou um avanço de 61 pontos percentuais, igualando com a média de anos anteriores, disse o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador.
Cerca de 80% das lavouras estão em boas condições, as melhores dos últimos cinco anos. Se permanecerem assim até a colheita, será uma boa safra.
O feijão de primeira safra deve ocupar uma área total de 149 mil hectares, que representa uma leve redução de 2% em relação ao ano passado. A safra esperada é de 300 mil toneladas, volume 5% inferior ao da safra anterior, que totalizou 316 mil toneladas.
A expectativa agora é como o clima pode influenciar na safra, disse o analista. Como o feijão é uma planta de ciclo curto, em torno de 90 dias, a colheita está prevista para a segunda quinzena de dezembro, com mais intensidade entre janeiro e fevereiro.
O produtor ainda pode se beneficiar dos preços do feijão, mais altos este ano, apesar do consumo já ter recuado um pouco. “O consumidor colocou o pé no freio com os preços altos nos últimos meses e o comércio ficou mais lento”, disse Salvador.
O preço do feijão de cor está cotado em torno de R$ 254,97, uma valorização de 72% em relação a outubro do ano passado quando o produto era vendido por R$ 148,00 a saca. O feijão-preto teve uma valorização de 108% no mesmo período. O aumento nos preços foi provocado pelo consumo maior, em função da pandemia.
Neste momento, segundo o técnico, a oferta de feijão no mercado é baixa, mas os preços não se elevaram mais ainda por causa no recuo da demanda. Ele salientou, porém, que há uma incerteza no mercado de uma possível safra menor de feijão no País e também estoques baixos para o abastecimento nacional, que pode levar a uma nova onda de aumento nos preços.
CAFÉ – Diferente de culturas anuais, o café, como uma cultura perene, vem sofrendo os efeitos da estiagem desde o seu início. A falta de chuvas que ocorreu desde março deste ano está impactando no potencial de produção da safra de 2021, disse o economista do Deral, Paulo Franzini.
Em setembro, a seca atrasou o início das floradas, mas que foram recuperadas com a volta das chuvas neste mês de outubro. “A abertura das floradas, primeiro parâmetro de medição da próxima safra, foi mais uniforme e mais intensa”, disse Franzini. As primeiras previsões da safra de café de 2021 serão feitas em dezembro.
A safra de 2020 foi concluída com um volume de 943 mil sacas de 60 quilos, cerca de 1% maior que o ano passado, que já foi 10% a 15% inferior ao potencial de produção. Também impactada pela estiagem, disse Franzini.
A falta de chuvas favoreceu a colheita mais rápida da safra deste ano, com a aceleração da maturação dos grãos. Embora menores, por causa da falta de chuvas, os grãos da safra 2020 estão resultando em bebida de boa qualidade.
Cerca de 55% da safra de café 2020 já foi vendida com um preço médio de R$ 466,00 a saca. Um aumento 20% em relação ao ano passado quando foi vendido a um preço médio de R$ 387,00 a saca. Mas o preço foi inferior a maio deste ano quando a saca de café foi comercializada por R$ 515,00.
Segundo Franzini, o preço atual do café remunera pouco o custo de produção, principalmente na colheita manual que representa 70% do café plantado no Paraná.
Apenas 30% da cultura no Estado tem a colheita mecanizada.
O técnico antecipa que poderá haver redução na área ocupada com café no Estado para ceder mais espaço para a soja, cujo grão está mais valorizado no mercado. Muitos produtores estão optando por arrendar suas terras para o plantio de soja. Isso também afeta o potencial de produção para a próxima safra, destaca. Este ano a área ocupada com café deve fechar em torno de 38 mil hectares, inferior ao ano passado quando a cultura ocupou 40 mil hectares.
TRIGO – A cultura do trigo no Estado está sendo finalizada, com 90% da área já colhida. Ao contrário das outras culturas, em fase de plantio, a seca beneficiou a colheita do trigo que está evoluindo bem, disse o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho.
A previsão de produção é de 3,1 milhões de toneladas, um recuo de 15% em relação à estimativa inicial, que era colher 3,6 milhões de toneladas. A cultura foi prejudicada pelas geadas principalmente nas regiões Oeste e Sudoeste do Estado. Ainda assim, é a maior produção dos últimos três anos, disse o técnico.
A qualidade da safra está boa e a seca reforçou o glúten do grão, uma característica importante para a panificação.
Na mesma linha de outros grãos, o dólar elevado está puxando as cotações do grão para cima. O produtor está recebendo em torno de R$ 70,00 a saca, 50% acima dos valores pagos em outubro do ano passado quando a saca de trigo estava cotada a R$ 45,00. Segundo o técnico, o preço do trigo está no maior patamar dos últimos cinco anos.
Godinho alerta, porém, que a situação do trigo no mercado internacional, de relativa acomodação, pode mudar do dia para a noite se os países elevarem a compra de estoques. O Brasil, disse, produz somente a metade de seu consumo e pode ser prejudicado se houver uma corrida pelo grão.
Cerca de 47% do trigo paranaense já foi vendido, o maior patamar do últimos 15 anos, uma reflexão direta da cotação elevada. O Paraná é o maior produtor de trigo do País e o Estado que tem o maior parque moageiro também, com capacidade de 3,5 milhões de toneladas.
ARROZ – O Paraná produz cerca de um terço de suas necessidades de arroz, sendo os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, seus maiores fornecedores. O plantio de arroz irrigado é limitado no Paraná por causa da escassez de áreas de várzeas e a necessidade de irrigação torna muito caro o produto final. Já o arroz de sequeiro, que era plantado entre os pés de café também tem sua área de plantio reduzida, com a queda no plantio de café no Estado.
Segundo o economista do Deral, Methódio Groxko, são 19 mil hectares ocupados no Estado com arroz irrigado e 2 mil hectares com arroz de sequeiro. A produção é em torno de 150 mil toneladas.
Os preços do arroz continuam elevados, embora se acomodando um pouco, disse Groxko. Segundo ele, os preços aumentaram bastante porque a produção nacional caiu por causa dos preços muito baixos nos últimos quatro a cinco anos. E este ano coincidiu com exportações do grão. Com demanda no mercado internacional e o dólar valorizado os produtores exportaram arroz.
Neste ano o preço do arroz aumentou 73% ao consumidor, passando de R$ 15,00 o pacote com 5 quilos em outubro de 2019 para R$ 26,00 em outubro deste ano.
MANDIOCA – Este ano o clima, com estiagem prolongada, dificultou todo o ciclo da mandioca no Paraná.
Já foram colhidas 62% da safra deste ano, que deve atingir um volume de 3,5 milhões de toneladas. O plantio da safra de 2021 atingiu 77% e começa a ser finalizado, devendo atingir uma área de 149 mil hectares, praticamente repetindo a do ano passado que alcançou 148 mil hectares.
O plantio de mandioca no Paraná começa em maio e termina em outubro. A colheita dura o ano inteiro.
Na colheita, os produtores enfrentaram problemas de arranquio da raiz com o solo muito duro provocado pela falta de umidade. Além disso, a colheita utiliza muita mão de obra e ocorreram problemas sérios de transporte por causa da pandemia. Também de março a agosto muitas indústrias que utilizam a fécula e a farinha de mandioca ficaram fechadas, com efeito prejudicial à comercialização da raiz no Estado, quando os preços baixaram.
Com o retorno das atividades os preços se recuperaram e a mandioca está sendo comercializada a R$ 483,00 a tonelada, um aumento de 55% em relação ao ano passado quando foi vendida por R$ 310,00 a tonelada, em média.
Fonte: AENPR