Com apoio do Estado, ciganos, quilombolas e indígenas ingressam na universidade

10 de setembro de 2024 às 13:39

O Governo do Estado celebrou o ingresso no ensino superior de 60 candidatos quilombolas, indígenas e ciganos. Eles participaram, nesta quinta-feira (9), da 1ª Calourada da Diversidade, do Centro Universitário Internacional (Uninter), que oferta bolsas para este público, por meio de parceria com a Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, permitindo o ingresso na universidade.

O evento marcou, também, o início do Programa de Cotas da instituição, destinado a esses povos. Após as provas online, foram destinadas 50 bolsas para quilombolas e indígenas, e 20 bolsas, sendo 10 de graduação e 10 para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), para a comunidade cigana das etnias Rom, Calon e Sinti.

A ação é em parceria com a Semipi, com a Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci), a Confederação Brasileira Cigana e Coletivo das Mulheres Ciganas do Brasil (Comcib).

A secretária da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Leandre Dal Ponte, celebrou o projeto. “É uma parceria pioneira entre o Governo do Estado e a Uninter, para implementar políticas públicas que visam transformar a vida das pessoas, especialmente das comunidades tradicionais do Paraná. A iniciativa cria oportunidades de acesso ao ensino superior para aqueles que historicamente tiveram menos possibilidades”, reforçou.

Leandre disse que o governador Ratinho JUnior estabeleceu uma Secretaria de Estado para apoiar essa política, e que a colaboração com a instituição de ensino é um passo crucial para potencializar e dar continuidade a esses esforços. “A expectativa é que essa parceria sirva de modelo para outras instituições e ajude a quitar uma dívida histórica com essas comunidades”, completou.

O pró-reitor da Uninter, Rodrigo Berté, destacou que esse processo seletivo é a evolução de uma parceria iniciada há dois anos entre a instituição e comunidades indígenas, que começou com um projeto de internacionalização envolvendo indígenas do Canadá e levou à identificação da necessidade de formar professores indígenas.

“A iniciativa expandiu para incluir quilombolas e ciganos, com a criação de um edital de bolsas de estudo integral para essas comunidades. A instituição enfatiza a importância de um olhar social e inclusivo, buscando democratizar o acesso ao ensino superior e apoiar a diversidade. A parceria com o Estado é positiva e está alinhada com o compromisso da Uninter com a inclusão e a socialização do conhecimento”, afirmou.

DIVERSIDADE NA UNIVERSIDADE – O ingresso no ensino superior é um importante passo para realização dos sonhos dos alunos e a vontade de mudar o ambiente que os cercam. Aline de Souza de Castro, quilombola da comunidade Varzeão, no município de Doutor Ulysses, foi aprovada em Engenharia Agronômica e falou das expectativas.

“Escolhi esse curso porque na nossa região existe muita produção de poncã, pinus, etc. A parte de agricultura é muito forte e é necessário um profissional nessa área. Estão montando uma cooperativa na nossa comunidade, que atenderá em torno de 40 famílias que vivem lá”, explicou. “Tenho certeza que com a minha formação poderei contribuir de forma significativa”.

Para Lucas Stefanovich, cigano da etnia Rom, de Curitiba, aprovado em Tecnologia em Marketing, o curso vai proporcionar as ferramentas e o conhecimento necessários para fazer a diferença tanto na vida dele quanto na comunidade. “Ter uma graduação é algo que eu sempre vi como essencial, então essa oportunidade realmente expandiu meus horizontes. Essa conquista não é só pessoal, mas é um passo importante para devolver para a comunidade o aprendizado e o sucesso que a gente tanto quer obter”, ressaltou.

REPRESENTATIVIDADE – Lideranças quilombolas, indígenas e ciganas celebraram a possibilidade de mudanças nas suas realidades. Kretã Kaingang, cacique da Terra Indígena Tupã Nhe e Kretã e um dos fundadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil/Sul, disse que presenciou um momento diferente e especial. “Essa oportunidade de acesso marca um novo modelo de educação superior no Brasil para nós, povos indígenas, que é a EaD. A expectativa é que a cada ano os nossos jovens possam buscar cursos como esse e que não desistam”, relatou.

“O acolhimento por meio dessas bolsas de estudo ofertadas vem celebrar essa e muitas outras vitórias que virão, até mesmo para que o povo cigano consiga ocupar, realmente, o seu espaço de fala”, observou Nardi Casanova, cigana Calon e secretária-executiva nacional da Confederação Brasileira Cigana.

Para Benedito Florindo de Freitas Junior, quilombola de Adrianópolis, é um marco significativo para as comunidades tradicionais do Paraná. “A iniciativa é um passo crucial para a formação e melhoria da vida dos quilombolas, permitindo que eles próprios possam contar suas histórias e desenvolver projetos, como ter professores e profissionais na comunidade”, ressaltou. “A expectativa é que facilite a integração e a evolução dentro da sociedade globalizada, possibilitando a contribuição da cultura quilombola no contexto acadêmico”, disse.

 

Foto: Robson Mafra/Semipi-Pr

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