Alzheimer acomete 11,5% da população idosa do País

2 de fevereiro de 2019 às 22:42

Lavrador em uma chácara no interior de Felixlândia (MG), Geraldo Antônio Valadares, 61 anos, esqueceu como regar o jardim do local. Há um ano, o comportamento chamou a atenção da família, que decidiu levá-lo ao geriatra. Após uma série de exames e avaliações, veio o diagnóstico: Geraldo fora acometido pelo mal de Alzheimer.

Ao lado da mulher, Marina Valadares, com quem está casado há mais de 30 anos, o lavrador cuidava da plantação. Hoje, a situação é diferente. “Não sabe mais tomar banho sozinho e muitas outras coisas da rotina diária ele esqueceu”, disse a esposa Marina.

Uma das variações da demência, a doença é comum em pacientes nessa faixa etária. Segundo o Ministério da Saúde, a prevalência com pessoas com 65 anos ou mais é de 11,5%. A Associação Brasileira de Alzheimer aponta que 1,2 milhão de brasileiros convivem com esse tipo de demência.

Atendimento 

Ao procurar o Sistema Único de Saúde (SUS), os familiares e pacientes têm acesso ao tratamento integral e gratuito, o que inclui diagnóstico, medicações e monitoramento da doença. Para tanto, são realizados exames de imagem do cérebro, como tomografias e ressonâncias, mas a avaliação clínica é ainda mais preponderante na definição do quadro.

Apesar de não ter cura, existe tratamento para aliviar os sintomas do Alzheimer. Os medicamentos e os serviços multidisciplinares para melhorar a qualidade de vida dos pacientes estão disponíveis na rede pública de saúde do Brasil.

Essa iniciativa inclui fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e suporte psicológico e familiar. Hoje, 139 Centros Especializados em Reabilitação pelo País fornecem esse atendimento global aos pacientes. Além disso, o SUS também distribui a Memantina, usado no tratamento de pessoas com Alzheimer.

Mudanças

A doença se manifesta a partir da atrofia do cérebro, que perde neurônios e sinapses. Além disso, o acúmulo da proteína beta-amiloide na massa encefálica também contribui para as alterações.

Esse quadro leva a mudanças de comportamento e falhas cognitivas de memória, orientação, atenção e linguagem. “A nossa vida mudou completamente. Ele demora muito para responder. E a maioria das perguntas que faço para ele, o Geraldo não sabe ou esqueceu”, lamentou Marina.

Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o geriatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Marco Polo Dias Freitas explica que a família deve estar atenta a esses sinais. E ressalta: perda de memória não significa necessariamente uma doença. “Para falar do ponto de vista de demência, é quando a pessoa começa a perder habilidades adquiridas e deixa de fazer coisas que aprendeu ao longo da vida, muitas vezes são habilidades mais complexas. Aí começa a ser preocupante.”

Dependência

Foi assim também com o metalúrgico aposentado, Geraldo Marcari (66). Além de trabalhar na usina em São José do Rio Preto (SP), era treinador do time de futebol da cidade. Quando ele deixou os treinos, a filha, Juliana Marcari, percebeu que algo estava errado. Ela é a responsável pelos cuidados com o pai há sete anos. “Ele hoje é 100% dependente, não sabe jogar bola, não sabe fazer mais nada que fazia antigamente, não se lembra nem dos amigos da firma e nem do nome da firma.”

Estágios

Doença degenerativa e progressiva, a demência leva os pacientes a três fases:

Leve: é comum que os pacientes tenham perda de memória recente e fiquem desorientados em relação ao tempo e espaço, além de poderem apresentar sinais de agressividade e queda de motivação.

Moderada: com a progressão da doença, o esquecimento se torna mais profundo, e o paciente tem mais dificuldades de lembrar acontecimentos e nomes de conhecidos. Ele passa a depender de ajuda de cuidadores para realizar a higiene pessoal e apresenta dificuldades na fala.

Grave: no período mais avançado, o resgate de memórias mais enraizadas também representa um grande esforço para o paciente, como lembrar-se de amigos e parentes. Nessa fase, a capacidade motora também fica mais comprometida.

A perspectiva de vida para os diagnósticos de Alzheimer é de 10 a 15 anos. Como os medicamentos são pouco eficazes para retardar a doença, Marco Polo frisa que a terapia multidisciplinar é uma alternativa que melhora a qualidade de vida.

 

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